segunda-feira, 25 de junho de 2012

Um campeão da vida



A velhice para o aposentado, professor de karatê e maratonista José Bernardo Primo, de 64 anos, não é tabu e não se apresentou em sua vida como bicho papão e nem vilã. Lutador incansável, Primo, que nasceu no município de Brejo Santo no Ceará, trabalhou por 15 anos na roça. Ainda jovem, em julho de 1971, decidiu migrar pra a cidade de Santos para trabalhar como estivador no porto, onde ficou por 25 anos até aposentar.
Sua iniciação no esporte deu-se de forma inusitada e mais como necessidade de sobrevivência do que por prazer. “Sempre quis praticar um esporte. No porto onde trabalhava havia a necessidade de aprendermos a nos defender, pois os estivadores viviam arranjando briga e a forma que encontrei de me defender foi ingressando no karatê”, disse o atleta.
Sua história no karatê começou em 1979, na Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, treinando na categoria Shorin-Ryu, que é o karatê originário de Okinawa, cujo desmembramento deu origem aos demais estilos de Karatê hoje praticados no mundo, como o Shotokan, o Shito-ryu e o Wado-ryu.
Shorin é a pronúncia japonesa da palavra chinesa Shaolin, que quer dizer "Pequeno Bosque", sendo assim, como Ryu significa Estilo, Shorin-ryu seria o "Estilo do Pequeno Bosque".
Ano a ano, degrau por degrau, Primo escalou a escada mais alta até chegar ao grau mais almejado pelos praticantes do karatê. Em 1985, conquistou a faixa marrom, e em 1993, atingiu o 3º grau na categoria, garantindo a tão desejada faixa preta. “Mesmo com a faixa preta e já com 15 anos de karatê, já achava que poderia dar aula. Porém tive que aprender vários códigos éticos antes de assumir como professor” relembra.
Primo, que é professor de karatê na Academia Gimmus em Araras desde 1998, tem orgulho de dizer que é credenciado na World Karate Federation, na Confederação Brasileira de Karatê e na Federação Paulista de Karatê.
A casa de Primo é repleta de medalhas e troféus de seus feitos. Sereno, tranq
u
ilo e cheio de espírito motivador, o atleta, que se aposentou do trabalho de estivador há mais de 20 anos, tem seu dia ocupado com atividades que vão do esporte a religião. “Eu e minha mulher raramente paramos em casa. As pessoas até t
ê
m dificuldade de me encontrar aqui. Se não estou treinando ou dando aula de karatê, estou na Paróquia São Benedito, a qual sou sacristão, contribuindo com as atividades da comunidade”, ressalta Primo.
Entre histórias de sua vida no esporte e o começo da carreira de maratonista, o atleta foi mostrando golpes de karatê com vivacidade nos olhos de uma pessoa que não aparenta a idade que possui. “Farei 66 anos em novembro deste ano e não me lembro de ter tido alguma doença grave. Acredito que a prática de esportes possibilitou o vigor que tenho para viver”, declara.
Apesar de ter carro, Primo comenta que sempre gostou de caminhar. “Desde que morava em Santos nutria o hábito de comprar pão e ir ao banco a pé. Tanto que uma vez fui de carro e voltei a pé, esquecendo o carro na padaria”, lembra Primo aos risos.
Essa paixão por caminhar se estendeu em correr, e em 1990, foi convidado a participar de uma maratona organizada por um sindicato de Santos. “A primeira corrida que participei foi organizada pelo sindicato dos estivadores e tinha percurso de 7 km. A partir daí não parei mais de correr e já participei de provas de renome como São Silvestre, Corrida Integração, e Corrida da Primavera”, comenta.
A superação é sua palavra de ordem e quando está correndo o seu único pensamento é a persistência em não desistir nunca. “Eu nunca fico contente com meu desempenho. Acredito que a partir do momento que nos acomodamos, achando que já alcançamos o que queremos, estamos enganados, e aí a tendência é a queda na produtividade”, disse.
Neste ano passado, José Bernardo participou dos 15º Jogos dos Idosos (Jori) e além de disputar a prova de 2
.
000 metros rasos na modalidade de atletismo, categoria de 60 a 64 anos, concorreu também na modalidade coreografia. “Participo dos Jori, desde 2007, e este ano fiquei grato por ter participado da abertura dos jogos, conduzindo a tocha e acendendo a pira olímpica. Além de disputar a prova de atletismo e garantir o 11º lugar, pude exercitar meus dotes de dançarino, tentando imitar o Michael Jackson”, lembra José Bernardo.
Curinga inquieto, o lutador, maratonista e dançarino não se cansa e já planeja para o próximo ano protocolar pedido de inclusão da modalidade karatê nos Jori.
O esporte trouxe ao atleta benefícios que vão além do bem estar físico e mental. “O esporte é imprescindível na vida do idoso. Conheço amigos meus que quando aposentaram e não fizeram mais nada, morreram em menos de dois anos. Além de beneficio ao meu corpo, pude viajar por 15 estados brasileiros nas disputas de karatê e conhecer pessoas de diferente
s
culturas. Se pudesse começar minha vida de novo, do zero, teria além de vitalidade, a experiência adquirida em todos esses anos”, afirma.



Reportagem e Foto: Horácio Busolin Júnior

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